sábado, 1 de setembro de 2012

Recordações de Infância

Há uns meses atrás encontrei no Facebook o grupo de ex-alunos da minha escola primária e volta e meia gosto de ir até lá saber das novidades. Afinal, andei lá dos 4 aos 9 anos anos de idade e tenho muito boas recordações dessa época.

Mas as verdades são para serem ditas, certo? E a verdade é que sempre me senti muito mais próxima das professoras e funcionárias do que dos colegas. Hoje em dia percebo que o meu grau de maturidade era diferente do dos meus colegas, principalmente a partid dos 6 anos, altura em que os meus pais se separaram e a minha mãe começou a adoecer.

Lembro-me de passar os intervalos a ler, sentadinha no degrau da sala de aula que dava acesso ao pátio onde podíamos brincar; lembro-me de ficar a conversar com as professoras durante os intervalos, lembro-me de pedir à cozinheira para me deixar ajudá-la a descascar as batatas e as cenouras porque não me apetecia ir para o recreio... Mas também me lembro de jogar ao elástico, ao lencinho, à falua, à apanhada...

Enfim, Mas aquilo em que reparei hoje e me motivou a vir até aqui desabafar um bocadinho foram as fotografias de turma, ou melhor, o que falta nelas; nunca tinha reparado, mas se as fotografias da infantil, da pré-primária e da 1ª classe revelam um sorriso meu, daí para a frente sorriso desapareceu; ficou amarelo, triste, forçado, o olhar sempre desviado para o chão, uma expressão de tristeza profunda. A sério, nunca tinha reparado; e fiquei de tal maneira surpreendida que até chamei uma das minhas colegas de turma da altura para lhe perguntar se ela via o mesmo que eu.

E vê; e ainda me disse mais, disse-me que a recordação que tem de mim é a de uma menina triste, tímida, fechada em si mesma e embrenhada nos seus problemas.

Não estou a escrever isto porque quro comentários de solidariedade ou de pena ou de coisa nenhuma. Escrevo apenas porque senti necessidade de desabafar e de constatar que, embora existam sempre pessoas com muito mais problemas que nós, com passados muito mais complicados, com histórias de vida horrendas, a minha história nunca foi fácil. Basta dizer que saí da escola primária com quase 10 anos e pouco mais de dois anos depois perdi a minha mãe; cega, confinada a uma cama, a fazer hemodiálise 3 vezes por semana, a fazer fisioterapia 5 dias na semana e num sofrimento atroz. Que eu acompanhei de perto desde o início, ao ponto de ser eu, com 10, 11 anos de idade, a responsável por lhe dar os medicamentos todos os dias e não deixar que mais ninguém sequer lhe fosse buscar um copo de água.

E lembro-me que na noite em que faleceu, mesmo antes disso acontecer, a última coisa que ela me pediu foi precisamente um copo de água, para que eu não a visse dar o último suspiro. Mas foi como se tivesse visto.

4 comentários:

  1. Natacha natacha dava te um abraço apertado agora mesmo beijinhos amiga. e vem visitar me na casa nova!

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  2. A vida ás vezes nos faz crescer muito depressa, nos ensina que nada é facil (pelo menos para alguns)mas tambem nos deixa mais fortes, e somos capazes de enfrentar o Mundo de uma forma mais forte e segura.
    Não imagino o que é perder a mãe assim tão criança, eu tinha um medo enorme quando era garota de perder a minha, e ter de ficar com o meu pai, pois nunca nos demos bem...
    Que as lembranças do passado sirvam de antidoto para os males do futuro..
    Beijos Pinta

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  3. Sei o que é a parte de sermos nós a zelar pela vida da nossa mãe... quando devia ser ao contrário. Mas felizmente, a minha salvou-se. Não posso sequer imaginar o que teria sido de mim se ela não se salvasse... Foste uma grande filha, daquelas que as mães como a tua e a minha precisam e merecem...
    Coragem.

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  4. Natacha, há infâncias que não acontecem... É como se, de repente, a vida crescesse para além da própria medida.

    Há amores tão grandes que ultrapassam todas essas dimensões e assim aconteceu.

    Um abraço com muita admiração por esse coração bom.

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