quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Aviso - Ninguém é obrigado a ler. Post de lamúrias, para não variar.

A escassas horas de fazer 37 anos, dei comigo a fazer um balanço da minha vida; tentei ao máximo fugir dele, por ter perfeita noção de que o resultado é bem mais do que negativo, no meu entender.

Não deveria ser; afinal, não tenho nem nunca tive medo de envelhecer, sempre tive muito respeito e admiração pelos mais velhos; tenho dois filhos maravilhosos, a minha própria casa, não falta comida na mesa (com alguma ginástica, mas não falta), andamos todos vestidos e calçados e estou prestes a completar 20 anos de relacionamento com o maridito - 7 de namoro e 13 de casamento.

Para muitas pessoas, o parágrafo anterior seria mais do que suficiente para se sentirem felizes (se bem que a felicidade é um conceito complexo, errático e normalmente difícil de atingir), realizadas e tranquilas na vida; e eu acho que para mim também deveria ser, mas não é.

E porquê?

Porque, desde miúda, sempre tive apenas um objectivo - ser financeiramente independente; nunca quis ser rica, nem ter empregados, nem ganhar totolotos ou euromilhões; queria, apenas e só, ter o dinheiro suficiente para pagar as minhas despesas sem depender de ninguém. E esse objectivo continua (e muito provavelmente continuará) por atingir.

Como já contei aqui no blog, a minha mãe faleceu quando eu tinha 12 anos; o meu pai não quis ficar comigo, pelo que foi a minha avó materna quem me criou, com muito custo. Embora houvesse um documento do tribunal que obrigava o meu pai a pagar os meus estudos e a dar uma determinada quantia por mês à minha avó para a minha alimentação e vestuário, esse valor era mínimo; tão mínimo, que a minha avó, como é óbvio, alimentava-me, vestia-me, calçava-me e, coitadinha, até me comprava umas prendinhas de vez em quando (que eu recebia, sempre de coração apertadinho, por saber que esse dinheiro lhe ía fazer falta a ela).

Quanto ao meu pai, raramente me telefonava; era sempre eu que lhe ligava para saber como ele estava e, invariavelmente, do outro lado da linha, ouvia: "Quê? queres mais dinheiro???"; com o passar do tempo, acabei por só lhe ligar mesmo quando precisava de dinheiro para material escolar (e mesmo assim evitava...)

Sempre fui boa aluna, com médias de 5 até ao 9º ano e de 16 ou 17 valores no secundário; nunca chumbei nenhum ano na faculdade, poucas cadeiras deixei para 2ª época e as que deixei foram sempre pensadas, de forma a garantir as melhores notas possíveis; aliás, poucos exames fiz, dispensei quase sempre através das frequências. Mas para o meu pai nunca chegou; as minhas notas eram sempre baixas; nunca me pagou os exames de 2ª época, apesar de eu sempre lhe ter explicado que os deixava para essa fase para poder melhorar notas. Acabei o meu curso em 5 anos, com uma média de 16 valores (não foram 17 por 1 décima, graças ao estupor do meu orientador de monografia, que resolveu embirrar comigo, não me orientar em nada e ainda dar-me nota mínima na apresentação da dita cuja). No dia em que acabei o meu curso, e de casamento marcado para daí a um mês e meio, o meu pai disse: "toma lá 500 contos. A torneira fechou."

Nesse dia caiu-me tudo ao chão; não que eu estivesse a pensar em pedir dinheiro ao meu pai ou viver às custas dele; se não o tinha feito até aí, não ía começar nessa altura de certeza. Mas essa frase, juntamente com todos os anos anteriores, condicionaram a minha vida. Enquanto os meus colegas, com notas de fim de curso bem mais baixas que a minha, foram fazer pós-graduações, mestrados, doutoramentos e afins, eu tive que ir trabalhar numa área completamente diferente da minha, e que detestava. Mas fui. E a reacção do meu pai foi: "pois, eu não te disse que o teu curso não prestava??? agora aguenta-te". Ele, que se relacionava (e relaciona) diariamente com dezenas, senão centenas de médicos, directores de hospitais, de clínicas, etc; ele, que não lhe tinha custado nada falar com um deles e arranjar-me colocação; e atenção, que não estou a falar de cunhas - com as minhas notas, os voluntariados que fiz durante a faculdade, o estágio (onde tive 19 valores, e só não tive 20 porque me "baldei" no relatório de estágio e o fiz às 3 pancadas) e uma série de formações feitas ao longo do curso, pagas do meu bolso, estava mais que qualificada para começar a trabalhar a nível da clínica privada (ou, muito sinceramente, em qualquer outra área da psicologia); bastava que alguém me desse a oportunidade para tal.

Mas não; ele não o fez; eu não lhe pedi; fui trabalhar, casei, não tive lua de mel (ainda hoje estou à espera de a ter, mas enfim), tive a minha filha, juntei dinheiro, fiz mais duas pós-graduações, uma de 1 ano e outra de dois, ambas profissionalizantes e arrisquei sozinha. Comecei a dar consultas e formação, investi num espaço próprio, cheguei a trabalhar 20h por dia, 7 dias por semana, ao mesmo tempo que lutava para educar a minha filha com todo o amor possível, manter a minha casa limpa e organizada, comida na mesa e ainda conseguir encaixar um tempinho para o maridito...

O meu pai?? Esse sempre disse que eu sou calona, que nunca trabalhei, que não sei trabalhar em equipa, que não tenho iniciativa e por aí fora.

Quando as coisas estabilizaram um pouco, resolvi ter o segundo filho; e tive; mas com ele vieram alguns problemas na gravidez, que me obrigaram a interromper a actividade profissional mais cedo que o esperado; e depois veio o problema das pernitas dele, com idas 3 vezes por semana para a fisioterapia no hospital e o respectivo acompanhamento permanente em casa, que condicionaram o meu tempo útil de trabalho; e depois veio a crise. E sem saber muito bem como, tudo aquilo por que eu tanto lutei para construir e assim concretizar o meu objectivo de ser financeiramente independentemente ruiu por completo.

E agora estou assim... Sem trabalho, sem capacidade de iniciativa, sem capacidade financeira para fazer seja o que for, sem forças para continuar a lutar, sem conseguir pensar sequer em recomeçar tudo do zero, na minha área ou noutra qualquer.

Sim, tenho os meus filhos, a minha casa, o meu marido, comida na mesa e roupa no corpo; segundo Mazlow, as minhas necessidades fisiológicas estão supridas; as necessidades de 2º nível, que dizem respeito à segurança nas mais diversas áreas, também estão satisfeitas, se bem que algumas delas a um núvel algo precário, nomeadamente as que respeitam aos recursos financeiros; chegamos então ao 3º nível; e aí é que a porca torce o rabo; quanto à família, Mazlow refere-se à família próxima mas também á família alargada; e aí, nada feito; relativamente à amizade, nem pensar... já nem com a minha melhor amiga falo porque pura e simplesmente não tenho assunto de conversa; e no campo da sexualidade,,, enfim, vai-se tentanto, mas sem vontade nenhuma. E daí para a frente, é sempre a descer colina abaixo.

É frustrante. É muito frustrante. É demasiado frustrante. Amanhã faço 37 anos. E dependo do meu marido para tudo; até para por gasolina no carro e ir a algum lado tomar um café; caramba, até para esse café eu dependo dele. Ainda estou pior do que aos 12 anos. E não sei como resolver esta situação. Não tenho forças para mais. E ainda tremo de medo, só de pensar que o meu pai pode descobrir a situação em que eu estou. Sim, por incrível que pareça, aos 37 anos de idade ainda tenho medo que me pelo do meu pai; aquele homem ainda me consegue levar a um choro compulsivo só de pensar nas palavras que podem sair da boca dele; porque magoam; magoam muito; porque me atiram ao chão; para dentro do mais pequenino buraco que eu conseguir encontrar. Porque ele é pai, mas age como carrasco. E eu gostava tanto de ter um pai, por um dois dias que fossem...

Pronto, fim das lamúrias.

Amanhã é outro dia. O maridito vai estar a trabalhar, mas eu espero acordar com coragem para, pelo menos, fazer um bolinho para lanchar com os filhotes; e se não der, paciência, será um dia igual a todos os outros.


Bjinhos!!

10 comentários:

  1. natacha deixas te me com o coração apertadinho,mas acredita que um dia uma porta irá abrir se e a nuven negra irá passar,eu tambem dependo do meu para tudo,mas optamos por eu ficar em casa porque não me compensava trabalhar...um dia mando te um email e conto te uma historia.. a "minha historia"

    ou então aproveita e lê aqui..
    http://sandysantos.wordpress.com/2007/04/20/pois-e-meninas-vou-vos-contar-um-pouco-da-minha-historia/

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  2. Não te consigo dar nenhum conselho que vá mudar tudo pois também não tenho muita experiencia de vida....

    Mas não percas a esperança... De hoje para amanha vais ver que tudo muda. Arranjas trabalho na tua àrea, tens a tua autonomia financeira e vais-te sentir realizada a 100%... Mas não percas mesmo a esperança!

    Eu também estou +/- na mesma situação em relação ao meu pai... Tenho 23 anos e deixamos de nos falar para aí há uns 7 anos... E sim, vivemos na mesma casa... Se me custou? De inicio sim pois era a pessoa com que me dava melhor... Mas neste momento parece que já nem faz falta...

    Agarra-te ao que tens de bom na tua vida, aos teus filhos e ao teu marido... Podes depender dele agora mas de certeza que é tudo "compensado" de outras maneiras...

    Beijos

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  3. Não podia passar sem deixar um comentário...mas tenho pouco para dizer. Coragem! A vida ensinou-me que tudo pode mudar de um momento para o outro. Portanto é acreditar que amanhã tudo será melhor!
    Bjs
    Maçã Dentada

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  4. desejo te força e coragem.. muitos abraçinhos apertadinhos...

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  5. O teu pai faz-me lembrar o meu, ele também fechou a torneira prai aos meus 14 anos, fechou a torneira do dinheiro porque a do carinho estava fechada desde que me lembro de existir.

    Eu tive a sorte de ter a minha mãe sempre comigo.

    Não sei o que te dizer em relação à tua situação actual, a não ser que continues a tentar (pois, não é lá grande coisa para se dizer).

    Muita força.

    Beijinho.

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  6. Olá Natacha!
    Antes de mais feliz aniversário!
    Nos dias de mais aperto financeiro recorro aos meus pais para me emprestarem, ás vezes a minha mãe diz este mês não pode, só o ordenado do meu pai que entra( não é uma situação que me agrada fazer).
    Dantes ía todas a 5ª feiras( minha folga)lá a casa, com o aumento dos combustíveis comecei a ir de 15 em 15 dias, este mês( a minha mãe e irmã estão na apanha da pêra), só os vi na 5ª feira passada para os ir ajudar nas pêras do meu avô.

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  7. Parabéns Natacha, desculpa mas enviei-te um mail!
    Beijinho grande e felicidades!

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  8. Natacha... um beijinho do tamanho do mundo!
    És uma grande mulher que já passou por muito...
    Olha, estou a quatro meses de completar a mesma idade e dou por mim a pensar no que fiz e não fiz... e a lista vai enorme no que não fiz... opções erradas que fui tomando ao longo da vida mas resultaram no meu maior bem, no meu bem mais precioso: os meus Filhos! Por isso... agora só tenho de encontrar o meu caminho e lutar por ele...
    Beijinhos e

    PARABÉEEENNNNNSSSSS!!!!!

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  9. Não poderia deixar de te mandar um beijinho especial! A nossa área neste momento não dá nada, isso é bem verdade! Também estou a trabalhar numa área que nada tem de relacionada com a Psicologia. Mas a vida é mesmo assim! Tu vais dar a volta por cima, vais ver que sim!

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  10. Olá
    Sigo o teu blog(espero que não te emportes de te tratar por tu mas somos praticamente da mesma idade, eu tenho 39 anos)já há algum tempo e adoro as tuas dicas.
    Em primeiro lugar os meus parabéns e em segundo queria dizer-te que o mais importante de tudo são realmente os nossos filhos, por eles fazemos tudo e só assim faz sentido.
    por isso agarra-te ao amor dos teus filhos e verás que és muito, muito faliz.
    Eu também tenho um blog, muito diferente do teu, o meu filho é diabético desde os 5 anitos e no meu blog coloco todas as minhas duvidas, medos, felicidades, enfim...
    O meu blog é feijaozinhodiabetico.blogspot.com

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